segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Oz: um guardião da utopia


Vida

Eis aí o autor de Não Diga Noite. O israelense recebeu dos pais o sobrenome Klausner, mas, em lugar de usá-lo, resolveu utilizar algo tão simples quanto Oz – coragem, em hebraico.
Amós Oz está longe de ser apenas mais um escritor. Ao contrário, seus textos críticos, ensaios políticos e romances foram publicados em mais de 30 países.
Nascido em Jerusalém em 1939, ele hoje vive em Arad, no deserto de Neguev e luta pela paz entre árabes e israelences. Oz é professor de literatura (como a personagem Noa do livro que estamos lendo) na Universidade Ben Gurion. De todos os seus romances, foram lançados no Brasil, pela Companhia das Letras, Conhecer uma mulher, A caixa-preta, Fima e Cenas da Vida na Aldeia.
Obra
Não pensem vocês que encontrarão algo heróico ou grandioso em seus textos. Nada de super-homens ou mulheres-maravilha... Sua obra retrata histórias humanas, e tem como ponto de partida a rotina de pessoas comuns, como todos nós somos- até mesmo as celebridades. A solidão, o preconceito e a dificuldade de comunicação ganham espaço em seus romances; e ele consegue, de forma muito elegante e sutil, tratar esses temas sem deixar o texto entediante. Aí está sua grandeza: Falar das coisas mais simples e comuns da vida, de forma excepcional e artística.
Outro tema constante em sua obra é o sentimento de perplexidade em relação ao outro, que é percebido como uma ameaça em potencial. Além disso, aborda questões políticas da sociedade israelense. “A obra de Amós Oz se destaca pela insistência na exigência de justiça nas relações entre a maioria hegemônica no Estado de Israel e suas minorias, aí incluídas as relações com seus vizinhos palestinos.(...) Somente o diálogo aberto, com reconhecimento recíproco, com concessões justas e aceitáveis de parte a parte, poderá construir Israel como uma sociedade aberta, igualitária e democrática, fazendo com que, finalmente as narrativas convirjam”, afirma Saul Kirschbaum no texto Amós Oz: a perplexidade da inversão de posições.
Se tiverem mais tempo, leiam a entrevista com Oz feita pela Veja em 2001, em que o autor afirma, entre outras, que “algum dia os povos do Oriente Médio vão viver como uma família”. Utopia?
Dizem por aí
Vale a pena também conferir o que dizem por aí sobre o seu novo romance, Cenas da Vida da Aldeia (nesse link você pode ler o primeiro capítulo). O Estadão também comenta esse livro, cujos personagens estão sempre em busca de algo perdido, embora não saibam exatamente o que e onde perderam. Na verdade, segundo o autor, eles buscam por algo escondido dentro deles mesmos. Assim como aqueles que acreditam que apenas serão plenamente felizes quando tiverem dinheiro, ou, quando forem promovidos, ou quando realizarem todos os sonhos...dependem sempre de uma motivação externa para se satisfazerem. Por isso há tanta gente de cara feia por aí.
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domingo, 29 de novembro de 2009

Capítulo 1: Teo e o deserto

Outras pessoas estão ocupadas esta noite se divertindo, se arrumando, se lamentando. Ele se permite de bom grado este momento, que não lhe parece vazio. Por ele, o deserto está correto e o luar justificado

Nas primeiras páginas do livro conhecemos um pouquinho de um dos protagonistas do romance, cuja história vamos acompanhar ao longo deste mês. Seu nome? Teo. Ele vive em uma pequena cidade à beira do deserto israelense.
O narrador é onisciente e nos revela, com muitos detalhes e intenso lirismo, quem é esse personagem, o que ele pensa e como se sente em relação ao mundo ao seu redor. A paisagem também é descrita com muita beleza, embora retrate um lugar tão “sem graça” (e sufocante), como o deserto deve ser . Vejam só:
“...Mais adiante, estendem-se os morros vazios. Lá está o deserto. E ali, vez ou outra, levanta-se um redemoinho de poeira, se agita por um momento, se retorce, se remexe, se aquieta. E reaparece em outro lugar”.
Uma pessoa “comum” diria simplesmente que “ali venta muito, de vez em quando, e que o vento arrasta a poeira pra vários lugares”. Ou não?
Bem, mas vamos ao que interessa: quem é esse tal de Teo? Lamentamos informar, caros leitores, mas nosso (a partir de agora) colega não tem nada de Brad Pitt ou Gerard Butler. Muito pelo contrário, ele fisicamente faz mais o tipo Leonardo-Pataca , a “rotunda e gordíssima” personagem de “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel Antonio de Almeida. Ele parece ser uma pessoa bem calma, às vezes até meio preguiçosa:
 “Assim, ele deixa o terraço, entra, senta-se, os pés descalços sobre a mesinha do centro, braços largados para fora da poltrona, como se estivessem sendo puxados com força em direção às lajotas do Piso.Não liga a televisão, nem a luz (...) Outras pessoas estão ocupadas esta noite se divertindo, se arrumando, se lamentando. Ele se permite de bom grado este momento, que não lhe parece vazio. Por ele, o deserto está correto e o luar justificado”.
Talvez preguiça não seja a palavra certa. Pode ser que ele saiba, como poucos, admirar-se diante do por do sol e do luar (com nossa vidinha agitada, quem é que tem tempo pra ver graça no céu? Isto é triste, não?).
Teo já é um coroa de 60 anos, de cabelos grisalhos, com um “bigode elegante”, o rosto largo (um tanto assimétrico) e uns bons quilos acima do peso ideal:
“Naquele recinto, em qualquer recinto, os outros têm a impressão de que ele toma mais espaço do que seu corpo na verdade ocupa. O seu olho esquerdo está sempre meio fechado, não como se estivesse piscando, mas como se olhasse fixamente para um inseto ou um objeto distante”.
Teo também não é fã do deserto (quem seria?), mas também não reclama muito. Quando a noite cai, ele declara em voz baixa: “Agora se pode respirar”.
No próximo capítulo, saberemos quem é Noa, companheira de Teo.
Dê a sua opinião sobre o romance.
P.S.: Se você não pretende ler o livro, mas somente acompanhar a história por meio deste blog, participe também.

sábado, 28 de novembro de 2009

Tira gosto

"Às sete da noite, sentado no terraço do seu apartamento no terceiro andar, ele vê o dia sumindo e espera. O que promete esta última luz? E o que ela é capaz de cumprir? (...) A noite cai. As luzes das ruas acendem-se na cidade e as janelas das casas brilham entre espaços escuros. (...) Aos seus olhos, esse lugar parece o fim do mundo. Já fez o que podia fazer e de agora em diante espera."

Nosso bate-papo começa em dezembro. Participe!