sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Capítulo 10: Um lugar para a clínica / A place for the clinic

Em um domingo, um amigo de Noa chegou muito animado em sua casa, dizendo que encontrou um lugar perfeito para a clínica. Era uma casa antiga, cujo proprietário estava louco para vender. Muki Peleg até conseguiu um desconto. A casa valia uns cem mil dólares, mas se pagassem à vista, poderiam comprá-la por oitenta e cinco mil. Teo, sempre muito racional, ouviu a proposta e logo disse que era apenas aparentemente boa. Noa também achava que era cedo demais para pensar em comprar alguma propriedade, mas Teo a deixou irritada, e só por isso, resolveu que iria conhecer o lugar. Teo explicou que não poderiam simplesmente sair por aí comprando o prédio para a clínica. Seria necessário planejar o número de drogados que a clínica receberia, deveriam pensar nas burocracias da Prefeitura, nos vizinhos, oposição política... Ele é mais realista. Bem pé no chão. Noa não entende. Acha que ele está contra ela.
No dia seguinte, e depois de algumas crises e momentos de tensão, Noa e a equipe do projeto da clínica compram o local por oitenta e um mil dólares. A maior parte do dinheiro veio do pai de Imanuel, mas Teo também deu uma contribuição. No entanto, pediu a Noa que não assinasse qualquer documento. Não queria seu nome envolvido na venda do imóvel. Não queria dor de cabeça. Neste dia, eles foram à cidade e encontraram um vestido para Noa. 
"Antes de anoitecer estávamos em casa, e juntos no terraço pudemos ver a lua nascendo", pensou Noa.  

On a Sunday, a friend of Noa arrived at her place very excited for he had found a perfect place for the clinic. It was an old house, whose owner was eager to sell. Muki Peleg even got a discount. The house was worth a hundred thousand dollars, but in case they paid in cash, they could buy it for eighty five thousand dollars. Teo, always very rational, heard the proposal and immediately said it was only apparently good. Noa also thought it was too early to think about buying some property, but she got irritated by Teo, and for that reason alone, she decided to visit the place. Teo explained it would be necessary to plan the number of drug addicts that the clinic would receive, they also should think about the bureaucracy in the City Hall, neighbors, political opposition... He is much more realistic. Noa does not understand. She thinks he is against her plans.
On the following day, and after some tense moments, Noa and her team bought the site. Most of the money came from the Immanuel´s father, but Teo also made his contribution. However, Noa was asked not to sign any document. He did not want his or her name involved in this sale.
On the same day, they went to town and found a beautiful dress for Noa.

Capítulo 9: O caso do vestido / Chapter 9: Buying a dress

Teo resolveu presentear Noa com um vestido, e os dois foram às compras juntos. "Num primeiro momento o vestido despertou uma alegria infantil. Porém, após o prazer inicial, surgiu a hesitação", pensou Teo. "Não seria folclórico demais?", perguntou Noa à vendedora. Teo não disse nada. Preferiu não se intrometer. Ficou parado ao lado do caixa, "brincando" com as moedas em seu bolso. Tentava identificar, pelo tato, as chaves de casa, do carro, do escritório... Só depois de quinze minutos Noa pediu sua opinião. Ele disse "ele tem algo, mas você precisa se sentir bem. Se não tiver certeza não compre". Noa ficou ainda mais insegura com a resposta. Queria sua opinião. Para ela, ele não estava ajudando em nada.  Deixaram a loja sem o vestido.
No meio do caminho, é claro, ela disse que não comprou por causa dele, porque "se envolveu no raciocínio lógico de Teo". E aí, voltaram pra loja. Noa experimentou o vestido mais uma vez. (Vocês já viram uma cena parecida?) Quando Teo tirou o cartão do bolso, Noa disse envergonhada que ainda tinha dúvidas. Saíram novamente da loja. Sem o vestido. 
Noa não conseguiu entender a postura de Teo, e ele ficou confuso com o comportamento dela. As mulheres nunca entendem o que os homens dizem. Talvez porque elas dizem palavras que não significam exatamente o que querem dizer. Por exemplo, se uma mulher diz que alguém está bonitinho, no fundo, no fundo, quer dizer que este alguém está feio. Já um homem, é infinitamente mais prático. Bonitinho, para ele significa exatamente isto: bo-ni-ti-nho. Se quer dizer que alguém está feio, dirá "ele está feio!".
Será que um homem e uma mulher vão chegar a se entender algum dia? Ou fingirão que se entendem para não brigarem? Como é que se resolve esse impasse?


Teo decided to give Noa a dress, and the two of them went together to the store. "At first the dress sparked a childish joy. But after the initial pleasure, there was an hesitation", thought Teo. "Isn´t it too extravagant?" Noa asked the seller. Teo had said nothing so far. He preferred not to intrude. He stood beside the counter, "playing" with the coins in his pocket. He tried to identify, by touch, which were the keys of the house, his car, and his office... Fifteen minutes later Noa asked for his opinion. He said "it has something, but you need to feel confortable on it. If you are unsure, do not buy it." Noa got even more insecure with his answer. She wanted his opinion. But she thought he was not helping. They left the store without the dress.
Along the way, though, she said she hadn´t bought the dress because of him, because she "was involved in Teo´s logical reasoning." And then, Teo drove back to the store. Noa tried the dress again. (Have you seen anything similar before?) When Teo took the credit card from his pocket, Noa said she still had doubts concerning that specific dress.
Once more they left the store. With no dress.
Noa could not understand Teo, and he was confused by her behavior. Women never understand what men say. Maybe because they say words that mean exactly what they say. For instance, if a woman says someone is "ok", deep down, she means that someone is ugly. Since a man is definetely more practical, "ok", for him, means exactly "O-K". If a man wants to say that someone is ugly, he will say "he's ugly!". Can a man and a woman really understand each other? Or do they pretend to understand each other in order not to argue?

domingo, 20 de dezembro de 2009

Capítulo 8: A batalha continua / The battle goes on

Noa foi até uma cidade vizinha para tentar conseguir o apoio do Dr. Benizri. Com relação à clínica, tudo o que ouviu foi: "Como é que uma moça simpática como a senhora se mete numa história como essa?" e "Quanto aos seus drogados, deixe-os de lado antes que a sujeira comece a aparecer".
Voltou para casa, em Tel Keidar, revoltada. Pensou até em trair Teo para se vingar. Pensou também em desistir: "Em vez de criar a clínica vou me oferecer como voluntária para juntar roupas de inverno para imigrantes".
Mas no caminho, antes de chegar em casa, resolveu "superar a humilhação e desistir da vingança". Quando chegou em casa, Teo lhe disse "Não é fácil para você, Noa". E ela, orgulhosa, se esforçou para não chorar. Talvez Noa queira provar a Teo que é forte. Seria muito mais fácil chorar nos braços dele, e pedir ajuda.
Neste capítulo descobrimos que Teo e Noa se conheceram na Venezuela há oito anos. Também sabemos que ele trabalhou por 32 anos em planejamento, na Secretaria do Desenvolvimento. Mas Noa não sabe o motivo de sua saída. Para Noa, Teo foi aos poucos se fechando em seu mundinho: "Gradualmente ele foi mergulhando numa perpétua hibernação, tanto no inverno como no verão, se é que se pode usar o termo hibernação para alguém que sofre de insônia". 
E para quem não acreditava que isto seria possível, nesta noite eles foram ao cinema. Andaram abraçados como um casal... É a primeira vez que eles parecem realmente ser um casal. Esta noite Teo conseguiu dormir, e Noa assumiu seu lugar no terraço, em frente ao deserto.
O que você está achando da história?


Noa went to a nearby town to try to get the support of Dr. Benizri. However, all she got was: "How does a nice lady get involved in a story like that?" and "As for you drug addicts, just forget them before the dirt begins to appear." She returned home, in Tel Keidar, desolated. She even thought of betraying Teo to take revenge. She thought about giving up: "Instead of creating the clinic I will become a volunteer to collect winter clothing for immigrants."
But along the way she decided to "overcome the humiliation and give up the revenge. When she got home, Teo said "It's not easy for you, Noa". And she, very proud, struggled not to cry. Perhaps Noa wants to prove Teo she is strong. It would be much easier to cry in his arms and ask for help.
In this chapter we found out that Teo and Noa met in Venezuela and have been together for eight years. We also knew that he worked for 32 years in planning, at the Department of Development. But Noa doesn´t know the reason why he left that job. For Noa, Teo lived inside his own little world. "He has gradually been dipping in perpetual hibernation in the winter and summer, if one may use the term hibernation for someone suffering from insomnia."
And for those who did not believe it would be possible, this evening they went to the movies and walked as a couple... This is the first time they really seem to be a couple.
Tonight, Teo was able to sleep, and Noa took his place on the terrace, looking at the desert.
How do you like the story so far? 

sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

PRA LER NO DOMIGO: Carlos Drummond de Andrade

Para este fim de semana, o Clube recomenda a leitura do texto Depois de Jantar, de Carlos Drummond de Andrade. A estória é sobre um cidadão que tenta negociar com um assaltante, durante o assalto. 
Leia aqui e não se esqueça de comentar o texto.
Boa leitura e um ótimo fim de semana!

quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

Capítulo 7: Refletir é preciso / Chapter 7: Think more, do less

O fim do ano letivo está chegando e Teo sabe que Noa sempre faz alguma coisa nessa época. Viaja, faz algum curso, tem sempre algo em mente... Quando ele perguntou a ela quais seriam os planos para as férias, ouviu um “vamos ver”. Resposta de quem não quer muito falar a esse respeito. Noa está atarefada com as questões da Clínica, então talvez não tire “férias” nas férias...E aqui, algo interessante sobre Teo. Ele não é como a maioria das pessoas que vive correndo e caçando algo para fazer. Ele “reflete” mais, e “faz” menos. É difícil imaginar pessoas com tempo ou disposição para pensar sobre o que fazem. A maneira como o mundo é organizado coopera para isso. A começar pela jornada de trabalho, que começa às 8h e termina, para alguns, às 17h30. Após esse horário, e um dia de cão, qualquer pessoa só deseja dormir, ou assistir novela para esquecer o stress. “A verdade é que o stress nos domina. É nosso novo amante, novo rival da família e da curtição de todas as boas coisas da vida” (Lya Luft). No fim de semana, o tempo é preenchido para resolver assuntos pendentes, comprar o que falta para casa, organizar alguma coisinha, assistir ao jogo de futebol, à Fórmula 1... Mas, e o tempo para não fazer? E o tempo para refletir sobre a rotina? E, é claro, e o tempo para não pensar? Sim, porque não pensar é preciso. Pensar demais enlouquece! Atenção: não somos máquinas e não precisamos “fazer” algo o tempo todo. Vamos desacelerar, minha gente. Pensar mais, fazer menos!
“A maioria das pessoas sempre está ocupada com arranjos, preparativos, atividades de lazer. Eu me satisfaço com a minha casa, e o deserto”, pensa Teo. Ele não precisa de muito para se satisfazer. Pretende se aposentar logo, pois até seu trabalho está “aos poucos se tornando supérfluo”. Ele consegue se admirar com pequenas coisas. E quando se aposentar pretende, dormir à tarde, ficar sentado na varanda, jogar xadrez. À noite, ele vai olhar as estrelas. Isso tudo pode até parecer meio monótono para todos os acostumados à rotina caótica da cidade, mas demonstra segurança e auto-conhecimento. Ele não precisa fazer nada daquilo que a sociedade cobra... Ele é livre.
Sobre seus sentimentos com relação à Noa: “É como se ela tivesse voado para dentro dessa sala por engano e agora está tão assustada que não consegue nem achar a janela. Que está aberta como sempre”. Noa está perdida naquele apartamento, mas ela não sabe o que fazer. Teo só espera. “Porque então poderei me debruçar sobre ela e cuidar dela como fiz no início. Desde o início”.


The end of the school year is coming and Teo knows Noa always want to do something at this time. She usually travels, or take a training course... When he asked her what the plans were for the holidays, he heard a "we´ll see". The typical answer of those who do not want to talk much about one subject. Noa is busy with the Clinic issues, then she may not enjoy the holidays properly...
Here, there ´s something interesting about Teo. He is not like most people who keep running and looking for something to do all the time. He"thinks" more and "do" less. It's hard to imagine people with time to think about what they do. The way the world is organized cooperates for this. Beginning with our job routine, which starts at 8 a.m. and ends, for some, at 5:30 p.m. After this time any human being only desire to sleep, or watch soap operas to forget the stress. "The truth is that stress dominates us. It is our new lover, new family and thrill rival of all the good things in life" (Lya Luft).
Over the weekend, the time is filled to take care of our houses, buy stuff, watch the football or hockey game... But, where is the time to "don´t do"? What about the time to reflect on our everyday lives? And, of course, can we at least have some time "not to think"?  Thinking too much may drive us crazy! Attention: we are not machines and need not to "do" something all the time. Let's slow down, folks. Think more, do less!

"Most people are always busy with arrangements, leisure activities. I get satisfied with my house, and the desert", Teo thinks. He does not need much to be happy. He wants to retire soon, because even his job is "gradually becoming superfluous". He gets surprised by small things. And when he retires all he wants is to sleep in the afternoon, sit on the balcony, play chess. At night, he will look at the stars.
This all may seem boring for all accustomed to the chaos of the city, but it demonstrates he is free. He doesn´t need to do anything society wants him to, he only wants to appreciate the stars...
In Teo´s mind: "It's as if she had flown into this room by mistake and now is so scared that she can not even find the window. Which is opened as usual". Noa is lost in that apartment, but she does not know what to do. Teo only waits. "Because then I will take care of her as I did at first. As I´ve been doing since the beginning".

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Capítulo 6: O que se passa na cabeça de Noa? / Chapter 6: What´s in Noa´s head?

Durante o café da manhã, Noa disse a Teo que após o trabalho teria um compromisso para resolver detalhes sobre a clínica. Mas não queria saber sua opinião a respeito. Ele colocou sua mão sobre a dela e disse: "Você já é gente grande. Certamente vai achar o caminho". E então, ela soltou uma frase que não parecia ser muito sincera: "Teo, não sou retardada. Se você quer que eu abandone o projeto, simplesmente diga". (Será que ela realmente abandonaria seus sonhos por  causa dele?). Ele respondeu: "Noa, pare com isso. Tente. Veja o que acontece".
Depois de um tempo de tensão, Teo é categórico ao dizer: "Esta noite vamos ao cinema."
Noa não respondeu, e, depois de um tempo, saiu depressa para o trabalho. No caminho ela pensou: "Mais uma vez esta manhã não consegui lhe perguntar quais eram as novidades no seu trabalho. Na verdade, nunca há nada de novo, pois já faz algum tempo Teo perdeu o interesse em coisas novas". Mais uma vez ela acredita saber o que se passa com Teo, e vive em função disso. Ou será que na verdade pensa que ele perdeu o interesse por ela? Ela também se esqueceu de perguntar se ele estava bem... Está muito centrada em seus próprios projetos.
Ela pensa em ligar pra ele e perguntar como vão as coisas...pedir desculpas, mas não sabe ao certo por que pediria desculpas. Sente que está sendo injusta com Teo, mas nem ela mesma sabe o motivo exato.
Noa relembra o dia em que o pai de Imanuel, que aliás se chama Avraham Orvieto, pediu-lhe que coordenasse a equipe para pesquisar a possibilidade da clínica. Naquele dia, Avraham contou-lhe algumas histórias sobre seu filho e um macaco que eles tiveram por um tempo... Em algum momento, ao vê-lo lamentar a morte do filho, Noa coloca sua mão sobre a dele. Um ato de consolo? Talvez... Isso aconteceu duas vezes: "E novamente, sem notar, pus um dedo sobre a mão dele e tirei depressa, e disse: Desculpe, Avraham".
Ainda não sabemos se Noa voltou pra casa a tempo de jantar e ir ao cinema com Teo.


Over breakfast Noa said that after work she would have to go somewhere to do some things concerning the clinic. But she didn´t want to know Teo´s opinion about it. He put his hand on hers and said: "You are a grown up already. You will surely find the way".
And then, she uttered some words that didn´t sound very sincere: "Teo, I'm not retarded. If you want me to abandon the project, just tell me". He said: "Noa, stop it. Try. See what happens". After some time, Teo is categorical in saying: "Tonight we´re going to the cinema".
Noa didn´t respond to that, and after a while went to work. On the way she thought: "Once more, this morning I couldn´t ask him what were new about his job. In fact, there is never anything new, it's been a while Teo lost interest in new things".  Again she believes she knows what is going on with him. Or, does she believe he is not interested in her anymore?
She also forgot to ask if things were ok with him... She is very focused on her own projects, and doesn´t have much time to think of anything else.
She thinks of calling him and asking how things are. She wants to apologize, but doesn´t really know why. She feels she is being unfair with Teo, but she can´t find the exact reason.
Noa remembers the day when the father of Immanuel, whose name, by the way, is Avraham Orvieto, asked her to coordinate the team to see the possibility of the clinic. On that day, Abraham told her some stories about his son and a monkey they used to have... At some point, Noa puts her hand on his. An act of consolation? Perhaps... This happened twice: "And again, I put a finger on his hand and took it off quickly and said, Sorry, Avraham."
We don´t know yet if Noa went home on time to have dinner and go to the movies with Teo.
Share your opinion with us!

sábado, 12 de dezembro de 2009

Capítulo 5: Um judeu pobre? / Chapter 5: A Jewish peddler?

Aqui, o autor nos dá uma noção da cidade onde Teo e Noa vivem. Ela é pequena e não tem mais que 10 mil habitantes. Como muitas cidades, esta não é muito diferente. Há um lado em que vivem os mais abastados, e outro, onde as coisas são mais precárias. Todas as casas têm aquecedores solares no telhado, afinal não se pode desperdiçar essa energia.
Onde vivem os moradores mais abastados é assim: as casas são de madeira, construídas como muitos chalés suiços, as sacadas são amplas, as janelas arredondas... Já do lado oposto, há um vale comprido, com uma estrada precária, ao longo da qual ficam as fábricas de cerâmica e metal, pequenas oficinas, garagens e cabanas.
Mas tanto o lado mais bonito da cidade como o menos privilegiado têm algo em comum: "o sol arde inclemente sobre tudo". 
O autor descreve algumas pessoas que andam por lá, mas um personagem em especial chama atenção: um mascate, ou seja, um vendedor ambulante." Ele é corcunda, usa óculos e um solidéu preto". Solidéu é o pequeno "chapéu" que os judeus usam, sabem?  Pois é, já viram um judeu pobre? Este trabalha num farol de trânsito: "[ele] caminha com uma bandeja presa ao pescoço por um barbante". Advinhem o que ele vende. Não, não são balas, ou flores..."Sobre a bandeja, sapos automáticos capazes de saltar apertando-se uma bola de borracha, piões, sabonetes, pentes, espuma de barbear e bisnagas de xampu". Curioso, não acham? O sapo recebe  significados diferentes, dependendo da cultura. Para algumas ele anuncia a chegada de chuva...
Alguém aí entende de sapos?
                                                       
Here, the author gives us an idea of the city where Teo and Noa live. It is a small place and doesn´t have more than 10 thousand inhabitants. Like many cities, this is not very different. There is one side where the wealthy people live, and another, where things are tougher. All the houses have solar panels on the roof. After all, they can not waste this energy.
Where the wealthy residents live, things look this way: the houses are made by wood, built as many Swiss chalets, the balconies are large, they have rounded windows ... On the other side, there is a long valley, with a precarious road, along which there are factories of ceramic and metal, small workshops, garages and cabins. But the most beautiful side of the city and the less privileged have something in common "the merciless sun burns above everything." The author describes some people out there, but one character in particular calls our attention: a peddler. "He's hunchback, wears glasses and a black skullcap" . Skullcap is the little "hat" that Jews use, you know? Well, have you ever seen a poor Jew? This one works at traffic lights: "[He] walks with a tray attached to the neck by a string." Can you guess what he sells? No, he doesn´t sell candy, or flowers ... "On the tray, automatic frogs can jump up when you squeeze a rubber ball, spinning tops, soap, combs, shaving cream and tubes of shampoo. Curious, isn´t it? The frog have different meanings, depending on the culture. For some, it announces the arrival of the rain ... Does anyone here know about frogs?

sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

PRA LER NO DOMINGO: Chico Anysio

Conheça a história de Pirilo, um hipocondríaco (tem preocupação obsessiva com o próprio estado de saúde). E fiquem atentos, talvez vocês conheçam muitos Pirilos por aí. Chico adverte: "Os hipocondríacos merecem cuidados!"
Leia o texto Silêncio, hospital aqui.
E não se esqueçam de deixar os comentários...
Bom fim de semana!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Capítulo 4: Noa e a Clínica de reabilitação / Noa and the rehabilitation center

Como vocês sabem, Noa quer abrir uma clínica de reabilitação para jovens. Mas essa tarefa não será fácil. Como qualquer projeto ambicioso, isso envolve muito tempo, dinheiro e dedicação. Além de lutar para alcançar esse objetivo, Noa tem de lidar com seus sentimentos com relação a Teo. Não, ela não se sente confortável para falar desse projeto com ele. Já imaginaram não poder compartilhar os sonhos, angústias e dúvidas com seu namorado, marido ou melhor amigo?
Noa sempre acha que sabe o que Teo pensa dela. " Será que deveria consultar Teo de qualquer maneira? É tudo o que ele está esperando, como um caçador. Desde o começo ele sabe que eu não estou à altura do desafio", pensa Noa. Ela está bem "armada", sempre na defensiva, pois Teo é, na cabeça dela, uma ameaça.
Como as mulheres são criativas pra inventar essas "charangas", não?!
Um dos alunos de Noa morreu por conta das drogas. Imanuel Orveto era um bom aluno, e Noa se interessava por ele. Mas, quando ela decidiu que devia arrumar tempo pra bater papo com ele,  já era tarde. Ela se sente culpada pela morte do garoto. Não entende como foi capaz de "ignorar" Imanuel. "...se ao menos eu tivesse conversado com  Imanuel, se eu tivesse tentado me aproximar dele um pouco, trazê-lo para mim...", pensou.
Alguém aí já sentiu culpa? Umas das piores sensações para se ter, não há dúvidas. Culpa por não ter feito algo...por não ter dado atenção a alguém...
Quem sentiu muito a falta do jovem Imanuel foi seu carracho. "Depois da desgraça, o cão passou a entrar todas as manhãs na sala de aula, (...)sarnento, orelhas caídas, o focinho baixo quase varrendo a poeira do chão". Noa teve vontade de levá-lo para casa, mas quando lembrou de Teo pensou " Eu podia vê-lo virando o olho para cima, o esquerdo, e o bigode prateado de oficial britânico aposentado ocultando um ligeiro tremor: Olhe aqui, Noa, se é realmente importante para você, e assim por diante".
Será que ela tem uma bola de cristal pra advinhar as caras e bocas do Teo? Até que seria divertido saber, por meio da bola mágica, o que o outro vai dizer.
Voltando a falar do centro de reabilitação... A ideia, na verdade, não surgiu primeiro na cabeça de Noa. O centro foi ideia do pai de Imanuel que queria criar um espaço em memória ao filho.
O que Noa não esperava era que seria escolhida para liderar o projeto para a criação da clínica. É aqui que história da protagonista se torna ainda mais complicada. Primeiramente, Teo ficou com um pé atrás porque o pai de Imanuel passou a enviar mensalmente para Noa cheques no valor de 300 dólares. Na cabeça de Teo, as coisas são claras assim: se o pai quer um memorial para o filho, por que não abre logo uma fundação? Por que colocar sua Noa no meio das coisas?
Além de não ter o apoio de Teo, não tem o apoio de ninguém da cidade. Noa tem ainda de aguentar brincadeiras de mau gosto.
"Na biblioteca pública a bibliotecária reuniu numa prateleira toda a literatura sobre tratamentos de dependência de drogas. Alguém grudou um rótulo na prateleira: Reservada para Noa, a viciada.
Teo fica calado porque eu pedi.
Quanto a mim: estou aprendendo".


A história está só começando...
Deixe seus comentários, participe.


As you know, Noa wants to open a rehabilitation center for young people. But this is no easy task. Like any ambitious project, it involves much time, money and dedication. In addition to striving to achieve this goal, Noa has to deal with her feelings concerning Teo. No, she doesn´t feel comfortable talking about this project to him. Can you imagine not being able to share the dreams, anxieties and doubts with a boyfriend, husband or best friend? Noa supposes she knows what Teo is thinking about her. "Should I consult Teo anyway? That's all he's waiting for, like a hunter. From the beginning he knows I'm not up to the challenge", thinks Noa. She wants to protect herself from him, because Teo is, in her head, a threat.
Women can be very creative sometimes... don´t you think?
One of Noa´s students died from drugs. Immanuel Orveto was a good student, and Noa liked him. But when she decided to arrange sometime to chat with him, it was too late. Now she feels guilty for the boy´s death. She can´t understand how she was able to "ignore" Immanuel. 
Anyone out there has ever felt guilty? It must be awful, no doubt.
Opening a rehabilitation center, in fact, wasn´t Noa´s idea, though. This was Immanuel´s father idea, who wanted to create a center in memory of the child. What Noa did not expect was to be chosen to lead the project to create the clinic. This is where the story becomes even more complicated. Firstly because Teo seems to be jealous, since Immanuel´s dad start sending checks of $ 300 to Noa, for her working in his project. For Teo, things are very clear: if the father wants a memorial to his son, why doesn´t he open a foundation? Why to invite Noa to lead the project?
Besides not having the support of Teo, she doesn´t have the support of anyone in the city. Noa also has to endure jokes. "In the public library the librarian put together on a shelf all the literature on treatment of drug dependence. Somebody stucked a label on the shelf: Reserved for Noa, the drug addict.
Teo is silent because I asked him to.
As for me: I'm learning."
The story is just beginning ... Leave your comments. Join us.

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Capítulo 3: Um homem ou uma lagartixa?

"Frio e silencioso, uma lagartixa de olhos gelados observando na escuridão um inseto colorido que dança na luz: é assim que eu a recebo", pensa Teo. Este solitário personagem se compara a um réptil, pequeno e frio, quando vê Noa. Por quê?
Uma lagartixa se arrasta para sair do lugar; além do mais, tem uma cor sem graça, e é fria, "sem vida". É assim que Teo se sente diante de Noa, que é comparada a um "inseto colorido", e pode voar, consegue brilhar... Ele se sente inferior e impotente diante dela. Mas, por quê?
Ao entrar em casa, Noa andou de um lado para o outro, fez algumas perguntas ao Teo enquanto caminhava em direção ao quarto, e depois foi até ele. "O que é que há de novo"? perguntou Noa, mas (logo) "levantou-se correndo para ligar a TV, e só então sentou-se por um momento no braço da minha poltrona, quase em cima de mim, mas sem se apoiar, afastou os cabelos loiros dos olhos como se estivesse abrindo uma cortina, e disse: 'Deixa eu te contar o dia maluco que tive'. E parou. De repente bateu dois dedos na testa e se afastou num salto para outra poltrona dizendo: 'Desculpe, Teo, só um minuto, preciso dar dois telefonemas rápidos, quem sabe você não quer ir preparando a salada'. E pôs o telefone no colo e ficou grudada nele uma hora".
Homens, tenham paciência. As mulheres nem sempre têm uma boa noção do tempo, isso é comum. Sabe como é.  Os quinze minutos que (acham) que precisam para se arrumar, por exemplo, são sempre uma hora e meia para vocês. Aqui uma sugestão para evitar conflitos (atenção, cavalheiros): quando uma mulher disser que precisa apenas de uns dois minutinhos, multiplique o número por cinco ou dez... 
Vontando ao que interesa. Noa deve ter tido um lapso de memória naquela noite, pois se esqueceu (?) de retomar a conversa com Teo, quando desligou o telefone (ah, as mulheres precisam falar! Não há mal nisso, certo?). E aqui, mais detalhes não muito reveladores sobre Teo: "Suas mãos são bem mais velhas do que a dela, os dedos rijos um pouco ressecados, a pele ligeiramente enrugada, as costas das mãos marcadas com veias saltadas e manchas de pigmento parecendo torrões de terra". O contraste entre eles é gritante: ela, cheia de vida, desfrutando a flor-da-idade, e ele, exibindo as marcas do tempo.
Naquela noite, ela disse que estava cansada pra conversar, foi tomar banho, leu um livro e dormiu.
"Ela tem o dom de adormecer num instante. Como uma menininha querida por todos que fez seus deveres de casa, arrumou a escrivaninha, lembrou-se de tirar as fivelas do cabelo, acreditando que tudo está em ordem, que todo mundo está contente com ela e que amanhã é outro dia (...) O sono dela desperta em mim uma sensação de injustiça, ou talvez meramente ciúme", pensou Teo. Naturalmente, qualquer homem (ou mulher) ficaria desapontado se fosse preterido dessa forma, "trocado" pelo telefone ou por livros. Não é novidade que o ser humano precisa se sentir vivo, querido e... humano. Mas Teo não se sente homem, mas como uma lagartixa.
Essa é a realidade de muitos casais. Por medo, incertezas ou até por pressões e (im)posições sociais, continuam se machucando e se reprimindo, a troco de quê?
Teo foi para seu quarto, e dormiu solitário ouvindo as notícias de uma rádio de Londres. 
Amanhã tem mais!

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

PRA LER NO DOMINGO: Jorge Luís Borges

Funes foi "agraciado" com uma memória  invejável. O "memorioso", vocês já sabem, consegue se lembrar de tudo! Com a enorme quantidade de informação que é despejada todos os dias diante de nós, uma memória infalível, aparentemente, resolveria muitos de nossos problemas. Caros leitores, a reflexão que propomos é a seguinte: o mais importante é a quantidade de informações que armazenamos ou a qualidade delas? Neste tempo em que "tudo é pra ontem", muita gente se sente na obrigação de "fazer" o tempo todo. Dessa forma, sobra pouco ou nenhum tempo para o "pensar" a respeito do que se tem feito. Neste fim de semana, aproveite para desacelerar e para não-fazer (pelo menos por um tempo). Mas, não deixe de ler o conto Funes, o memorioso (Jorge Luis Borges). Clique aqui para iniciar a leitura.

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

Capítulo 2: Noa e Teo: estranhos sob o mesmo teto

Noa é a companheira de Teo. Mas eles parecem não ter muito em comum. Ela é agitada, inquieta...é a típica mulher moderna: acorda cedo, trabalha muito (como professora de literatura), corre atrás de seus objetivos, faz compras, não para. "Lá se foi mais um dia doido, e eu passo o tempo todo correndo atrás do tempo", pensa Noa. De casa para o colégio, do colégio para o Conselho de Trabalhadores, do conselho para a corretora, da corretora para o banco, do banco para o supermercado e do supermercado pra casa. Ufa! Apesar das semelhanças com as mulheres de hoje, Noa tem um "sonho" muito peculiar e ousado. Ela deseja abrir uma clínica de reabilitação para jovens drogados. Bem, o resto vocês já sabem: Quando uma mulher põe algo na cabeça, é difícil convecê-la do contrário.
"Quando cheguei em casa já estava escuro, eu morta de calor e cansaço, e o encontrei sentado na poltrona da sala. Nenhuma luz. Nenhum som. Outro protesto silencioso, para me fazer recordar que o preço das minhas atividades é a solidão dele. É um ritual que tem regras mais ou menos definidas. Eu sou culpada em princípio, pelo fato de haver entre nós quinze anos de diferença. Ele, em princípio, me perdoa porque é uma pessoa magnânima".
Neste dia, Teo preparou o jantar. "Depois do noticiário, ferveu um pouco de água, preparou um chá de ervas para nós dois, colocou uma almofada sob a minha cabeça e outra sob meus pés, e escolheu um disco. Schubert. A morte e a donzela. Mas quando puxei o telefone e liguei para Muki Peleg, (...) em seguida para Ludmir, e depois para Linda (...), sua generosidade se esgotou e ele se levantou, tirou a mesa e lavou a louça, foi em silêncio até o quarto, como se eu tivesse a obrigação de correr atrás dele. Se não fosse essa demonstração de protesto, talvez eu tomasse um banho e fosse até ele, contar-lhe o que havia acontecido, pedir seu conselho". 
Noa aparentemente não se sente muito à vontade para compartilhar seus pensamentos e o seu dia com Teo. Isso porque ela tem a impressão de que ele não apoiará o projeto de criação da clínica. Noa não quer ouvi-lo. Ela se sente uma criança perto dele. Mulheres: quem nunca se sentiu assim? "É duro quando ele começa a falar, e sabe exatamente o que está errado no nosso projeto, e o que eu não deveria ter dito para quem de maneira nenhuma, e ainda mais duro quando ele fica calado prestando atenção, e se esforça para não deixar a atenção se dispersar, como um tio paciente que resolveu dedicar alguns minutos preciosos para escutar da menininha o que foi que assustou a sua boneca".
Teo e Noa vivem juntos, mas como estranhos. Bem, mas por que estão juntos? Comodismo? Amor? Medo?
No próximo capítulo vamos desvendar os pensamentos de Teo.

Você acredita que a diferença de idade interfira em um relacionamento? Seria esse o problema entre Teo e Noa?
Deixe seus comentários no blog. Participe!