sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Capítulo 3: Um homem ou uma lagartixa?

"Frio e silencioso, uma lagartixa de olhos gelados observando na escuridão um inseto colorido que dança na luz: é assim que eu a recebo", pensa Teo. Este solitário personagem se compara a um réptil, pequeno e frio, quando vê Noa. Por quê?
Uma lagartixa se arrasta para sair do lugar; além do mais, tem uma cor sem graça, e é fria, "sem vida". É assim que Teo se sente diante de Noa, que é comparada a um "inseto colorido", e pode voar, consegue brilhar... Ele se sente inferior e impotente diante dela. Mas, por quê?
Ao entrar em casa, Noa andou de um lado para o outro, fez algumas perguntas ao Teo enquanto caminhava em direção ao quarto, e depois foi até ele. "O que é que há de novo"? perguntou Noa, mas (logo) "levantou-se correndo para ligar a TV, e só então sentou-se por um momento no braço da minha poltrona, quase em cima de mim, mas sem se apoiar, afastou os cabelos loiros dos olhos como se estivesse abrindo uma cortina, e disse: 'Deixa eu te contar o dia maluco que tive'. E parou. De repente bateu dois dedos na testa e se afastou num salto para outra poltrona dizendo: 'Desculpe, Teo, só um minuto, preciso dar dois telefonemas rápidos, quem sabe você não quer ir preparando a salada'. E pôs o telefone no colo e ficou grudada nele uma hora".
Homens, tenham paciência. As mulheres nem sempre têm uma boa noção do tempo, isso é comum. Sabe como é.  Os quinze minutos que (acham) que precisam para se arrumar, por exemplo, são sempre uma hora e meia para vocês. Aqui uma sugestão para evitar conflitos (atenção, cavalheiros): quando uma mulher disser que precisa apenas de uns dois minutinhos, multiplique o número por cinco ou dez... 
Vontando ao que interesa. Noa deve ter tido um lapso de memória naquela noite, pois se esqueceu (?) de retomar a conversa com Teo, quando desligou o telefone (ah, as mulheres precisam falar! Não há mal nisso, certo?). E aqui, mais detalhes não muito reveladores sobre Teo: "Suas mãos são bem mais velhas do que a dela, os dedos rijos um pouco ressecados, a pele ligeiramente enrugada, as costas das mãos marcadas com veias saltadas e manchas de pigmento parecendo torrões de terra". O contraste entre eles é gritante: ela, cheia de vida, desfrutando a flor-da-idade, e ele, exibindo as marcas do tempo.
Naquela noite, ela disse que estava cansada pra conversar, foi tomar banho, leu um livro e dormiu.
"Ela tem o dom de adormecer num instante. Como uma menininha querida por todos que fez seus deveres de casa, arrumou a escrivaninha, lembrou-se de tirar as fivelas do cabelo, acreditando que tudo está em ordem, que todo mundo está contente com ela e que amanhã é outro dia (...) O sono dela desperta em mim uma sensação de injustiça, ou talvez meramente ciúme", pensou Teo. Naturalmente, qualquer homem (ou mulher) ficaria desapontado se fosse preterido dessa forma, "trocado" pelo telefone ou por livros. Não é novidade que o ser humano precisa se sentir vivo, querido e... humano. Mas Teo não se sente homem, mas como uma lagartixa.
Essa é a realidade de muitos casais. Por medo, incertezas ou até por pressões e (im)posições sociais, continuam se machucando e se reprimindo, a troco de quê?
Teo foi para seu quarto, e dormiu solitário ouvindo as notícias de uma rádio de Londres. 
Amanhã tem mais!

Um comentário:

  1. Parece que esta questão das diferenças entre eles está começando a ganhar corpo dentro da trama. Espero que a história não caia no modismo.

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