domingo, 29 de novembro de 2009

Capítulo 1: Teo e o deserto

Outras pessoas estão ocupadas esta noite se divertindo, se arrumando, se lamentando. Ele se permite de bom grado este momento, que não lhe parece vazio. Por ele, o deserto está correto e o luar justificado

Nas primeiras páginas do livro conhecemos um pouquinho de um dos protagonistas do romance, cuja história vamos acompanhar ao longo deste mês. Seu nome? Teo. Ele vive em uma pequena cidade à beira do deserto israelense.
O narrador é onisciente e nos revela, com muitos detalhes e intenso lirismo, quem é esse personagem, o que ele pensa e como se sente em relação ao mundo ao seu redor. A paisagem também é descrita com muita beleza, embora retrate um lugar tão “sem graça” (e sufocante), como o deserto deve ser . Vejam só:
“...Mais adiante, estendem-se os morros vazios. Lá está o deserto. E ali, vez ou outra, levanta-se um redemoinho de poeira, se agita por um momento, se retorce, se remexe, se aquieta. E reaparece em outro lugar”.
Uma pessoa “comum” diria simplesmente que “ali venta muito, de vez em quando, e que o vento arrasta a poeira pra vários lugares”. Ou não?
Bem, mas vamos ao que interessa: quem é esse tal de Teo? Lamentamos informar, caros leitores, mas nosso (a partir de agora) colega não tem nada de Brad Pitt ou Gerard Butler. Muito pelo contrário, ele fisicamente faz mais o tipo Leonardo-Pataca , a “rotunda e gordíssima” personagem de “Memórias de um Sargento de Milícias”, de Manuel Antonio de Almeida. Ele parece ser uma pessoa bem calma, às vezes até meio preguiçosa:
 “Assim, ele deixa o terraço, entra, senta-se, os pés descalços sobre a mesinha do centro, braços largados para fora da poltrona, como se estivessem sendo puxados com força em direção às lajotas do Piso.Não liga a televisão, nem a luz (...) Outras pessoas estão ocupadas esta noite se divertindo, se arrumando, se lamentando. Ele se permite de bom grado este momento, que não lhe parece vazio. Por ele, o deserto está correto e o luar justificado”.
Talvez preguiça não seja a palavra certa. Pode ser que ele saiba, como poucos, admirar-se diante do por do sol e do luar (com nossa vidinha agitada, quem é que tem tempo pra ver graça no céu? Isto é triste, não?).
Teo já é um coroa de 60 anos, de cabelos grisalhos, com um “bigode elegante”, o rosto largo (um tanto assimétrico) e uns bons quilos acima do peso ideal:
“Naquele recinto, em qualquer recinto, os outros têm a impressão de que ele toma mais espaço do que seu corpo na verdade ocupa. O seu olho esquerdo está sempre meio fechado, não como se estivesse piscando, mas como se olhasse fixamente para um inseto ou um objeto distante”.
Teo também não é fã do deserto (quem seria?), mas também não reclama muito. Quando a noite cai, ele declara em voz baixa: “Agora se pode respirar”.
No próximo capítulo, saberemos quem é Noa, companheira de Teo.
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P.S.: Se você não pretende ler o livro, mas somente acompanhar a história por meio deste blog, participe também.

2 comentários:

  1. Gostei bastante da intertextualidade nos posts. Continue assim! Parabéns!

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  2. Há sim análise amiga rs!! E muito boa por sinal!!! Amanhã vejo o segundo capítulo!!! Bjusss Fê

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